terça-feira, 12 de julho de 2011

Aprender a língua do país que nos acolhe

Hoje escrevo sobre aprender a língua do país que nos acolhe quando lá pretendemos viver, com base na minha experiência pessoal.

Logo na minha primeira semana em Hamburgo comecei a frequentar um curso de alemão intensivo, o chamado curso de integração para emigrantes sobre o qual referi aqui e aqui. Devo dizer que foi a melhor coisa que fiz quando para aqui vim morar: aprender alemão de raiz. Eu não sabia nada de alemão e isso revelou-se uma vantagem para mim: não tinha quaisquer "erros vincados" que se tornam complicados mais tarde de corrigir. Foi como voltar para a escola primária! A duração normal de um curso deste tipo é de 6 meses. No final desse tempo é suposto estar-se apto para fazer o exame que dará o tal Zertifikat Deutsch (se se passar, é claro). Como ainda não me sentia segura em relação ao alemão que falava, acabei por frequentar as aulas por mais um mês e, passado outro, fazer o exame. Passei.

Terminado o curso de integração para emigrantes continuei a aprender mas no Goethe Institut (o Instituto Camões cá do sítio) como contei aqui. Foram mais seis meses de aprendizagem, 3 aulas por semana de hora e meia em horário pós-laboral. Passado esse tempo, os 250€/mês começaram a pesar na carteira. Acabei por mudar para uma escola mais baratinha apenas a frequentar uma aula por semana. E lá continuo. Até hoje. Aliás, até Julho!

Voltando um pouco atrás, dois meses depois de ter chegado à Alemanha, conheci a K. com quem comecei a fazer "Tandem". Tandem, como já vos expliquei aqui é uma forma que duas pessoas têm de trocar conhecimentos. No meu caso e no da K. os conhecimentos foram as línguas alemã e portuguesa, respectivamente. Ainda continuamos a encontrar-nos uma vez por semana para falarmos a tal horita "só em português" e de seguida a horita "só em alemão". Durante estes três anos de Tandem nasceu entre mim e a K. uma grande amizade. Podem não acreditar, mas nós ainda hoje fazemos Tandem!
Esta forma de aprender ajudou-nos bastante pois criou uma relação de confiança entre ambas. Sem stress e sem o medo de errar e sermos ridicularizadas :P (como pode acontecer quando se está em grupo) temos evoluido bastante. Não é para me gabar, mas a K. está a falar muuuuuito bem português. E ela estava no mesmo patamar que eu quando começámos (não esquecer que ela não vive em Portugal).

Neste momento observo a minha estante e conto quinze livros em alemão, entre os quais, dez encontram-se lidos. Como qualquer pessoa, comecei pelos livros para criança que são no total oito :P. No início da aprendizagem não há outra hipótese senão ler livros infantis. Porém, com o tempo começa-se a "querer mais". No meu último aniversário recebi um livro de uma professora de alemão, "Die Entdeckung der Currywurst", que já foi começado, mas rapidamente abandonado. Mas ainda não desisti! Tenho esperança de um dia recomeçar a sua leitura. Quanto a revistas, posso aconselhar esta.

Falar em alemão, mesmo quando se tem a oportunidade de falar em inglês, é importante. Obviamente que depende muito das situações. Por exemplo, quando se está longe de casa, da família e dos amigos, muitas vezes o que precisamos é de desabafar e é muito importante que o façamos numa língua em que temos a certeza que nos entendem. Ainda hoje quando converso com a minha melhor amiga alemã :D acontece "escorregarmos para o inglês", mesmo ela falando tão bem português como fala, e eu o alemão que falo.
Há palavras que descrevem sentimentos, sobre os quais quero contar logo, e que não podem esperar que encontre em alemão as palavras "mais parecidas" com aquilo que quero dizer. Imaginem: a lágrima ao canto do olho que deveria ser de tristeza por algo de mau que me aconteceu e que quero partilhar, transforma-se em lágrima de raiva e frustração porque ninguém está a perceber puto do que quero contar! (Puf...! Finalmente esses tempos já lá vão.)
Em situações destas, quero lá saber o português, quero lá saber do alemão. Quero é que ela entenda o que estou a sentir! E daí o uso do inglês.

Ah! "The last but not the least": abrir o círculo de amigos a todos, que no caso de se viver na Alemanha, convém que inclua alemães :). Pode ser tendencial que um emigrante acabe por se rodear apenas por aqueles que falam a sua língua materna, com quem se sente à vontade, portanto. Óbvio. Para mim é claro o porquê deste comportamento. A língua é uma ferramenta que quem não a tem não pode usar para se exprimir, para conversar (como já falei aqui). No meu/nosso caso, a vida foi sempre preenchida com amigos de todos os cantos do mundo. Sempre fomos assim e acho que nada mudará esta nossa maneira de ser que na verdade só nos tem trazido alegria. Nem que seja a alegria de partilhar a vida nas diferentes perspectivas dadas por essas pessoas.

Posso concluir que até me tenho esforçado bastante para aprender e continuar a comunicar em alemão. Estou tranquila comigo mesma em relação a este assunto. Claro que existem 1001 maneiras de aprender uma língua. Eu procurei as que senti adequarem-se mais a mim. Tem sido 3 anos de aprendizagem constante. Não tem sido fácil, mas o que eu obtive (e ainda vou obter) dessa ferramenta (o conhecimento da língua alemã) permitiu-me passar por várias portas. Fossem elas a nível profissional ou pessoal.

Se dá trabalho aprender uma nova língua? A mim deu. Se dá gozo? Houve alturas em que sim e outras em que não.
Se valeu e vale a pena? :) Esta é fácil: SIM.

(in O blog que já devia ter sido escrito, 23/06/2010) 

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